Depois de uma noitada a acabar de arrumar tralha numa pilha que será transportada para UK mais tarde, a última coisa a ficar pronta foram os mp3 de cerca de 200 CDs que tenho vindo a ripar nas últimas 3 semanas. A música quer-se connosco, não a acumular pó no vinil!
Fomos levados ao aeroporto pelo Luís, ainda não tinha o sol nascido. Um grande amigo de muitos anos que se foi também despedir com um abraço mutuamente emotivo…
… e isto das despedidas é do que custa mais. Não sei se custa a todos, mas a mim sim. Por muita confiança e pica que se tenha, despedir especialmente daqueles poucos amig@s especiais custou muito. Dizia-me o Hakan, parcialmente responsável por agora me encontrar aqui, para aproveitar os últimos dias para estar com as pessoas que gosto, porque é do que se sente mais a falta. E os encontros e pequenos-almoços e lanches e almoços e jantares foram-se sucedendo nos últimos dias, tal como profetizado.
Numa destas despedidas, um amigo contava que tinha ido a uma entrevista em Paris, e que com a mesma a avançar e a correr bem, começou a sentir a preocupação da possibilidade de ser seleccionado, a preocupação com o afinal poder ter mesmo de abraçar o tal desafio que procurava, e de deixar a história da vida de volta em Lisboa. Empatizei imediatamente com o que contou.
Comecei a enviar CVs para fora do país em Janeiro deste ano. Quando me perguntaram porque o estava a fazer, a resposta saiu-me de dentro: Sinto-me a ser empurrado à frente de uma multidão, mas quando olho para trás não está lá ninguém. Os motivos são muitos e complexos de perceber. Simplesmente… tinha de ser.
Uma vez que estou a começar o blog e ainda não sei bem “com que voz” escrever, vou andando e logo se vê. Não me levem a mal, mas ainda estou à descoberta e podem verter coisas mais pessoais!
Aterrámos em Heathrow, pela primeira vez sem bilhete de regresso (sim, sim, estas coisas passam-me pela cabeça!), e ao entrar na fila dos passaportes havia um grupo de miúdos israelitas, vestidos com vestes pretas, e com chapeuzinhos na cabeça, vários deles com trancinhas a reforçar a origem e a religião. O papa católico também tem um chapeuzinho ‘tapa careca’ daqueles, mas em branco e muito mais chato de lavar. Mas a sério, trancinhas?
Passámos pela segurança e demais procedimentos aeroporticos sem problemas. No controlo de passaportes o inglês do outro lado cumprimentou com um “bom dia” e fechou com um “obrigado” de quem já passou férias no Algarve. Logo a seguir ao controlo, uma senhora de impresso em punho pediu-nos para preencher um inquérito muito rápido. Duas ou três perguntas depois perguntou o motivo da viagem. “We’re actually coming to live here”. E sem um piscar de olhos, tirou da pasta um segundo impresso, azul claro, de onde começou a debitar outras perguntas. Quando terminou, desejou-boa sorte com um sorriso simpático.
Tínhamos um taxi motorista à nossa espera, o Jimmy, que seguimos até ao estacionamento. O carro parado ao lado do dele fez-me sorrir de reconhecimento! Olhem só:
… quase pensei estar na minha própria garagem! :-)
Do aeroporto a Reading pela M4 – tenho de começar a decorar estas coisas - foram 35 minutos sem trânsito, passando por Windsor e pelo seu castelo dos filmes (“if the flag is up, the queen is there” – and it was). O Jimmy passou umas férias no Algarve quando era novo - algo me fez imaginar aquelas viagens de grupos de ingleses a bu’er jolas nas esplanadas - “but now I prefer the Canary Islands”. Estive quase a mandá-lo parar o carro e sair!!! A dizer mal do nosso Algarvinho?! Porrada já! (isto deve ser um síndrome de expatriado, agora que penso nisso – “defender o que é nosso”). Ou então agora vai com a mulher e tem medo de ainda ser reconhecido! :-)
Se tivesse de fazer um “sumário executivo” de Reading, dizia assim: uma cidade de média dimensão, 30 minutos a oeste de Londres de comboio, com duas Universidades, um shopping center chamado The Oracle, e muitas empresas e multinacionais especialmente mas não só da área de tecnologia. Podia também referir o Festival da Cerveja e a possibilidade de conhecer Jesus em pessoa, para dar uma cor local, mas estou de bom humor :-).
Não demorou até chegar ao destino, em Castle Crescent perto do centro da cidade, uma casa de dois andares numa rua de trás onde vamos ocupar - durante até 2 meses - um R/C simpático. Aquilo que se nota logo é que é um sítio muito, MUITO calmo: não se ouvem carros passar, nas traseiras há um pequeno relvado, e parece que estou no campo! (NOTA POSTERIOR: os pássaros começaram a cantolar pelas 0430 da madrugada, e fez-se luz seriam umas 05:00).
A casa está mobilada e pronta a habitar, e devo admitir que a primeira coisa a tirar das malas foi a PS4 (apenas para ver se funcionava, claro!). De resto, já não estava habituado a chão com alcatifa, mas fora isso, é um sítio mais acolhedor do que esperava, e a mesa à frente da janela por onde entra o sol é um destaque.
Uma das coisas que tenho de referir é que, ao contrário das 4 vezes que estive em Reading antes, desta vez o tempo estava muito agradável, e o dia soalheiro! Sim, sim, eu sei, também fiquei estupefacto! Ainda ontem, em Lisboa, a temperatura chegou aos 29 C e estive de t-shirt a jantar numa esplanada até quase à meia-noite, mas ainda assim encontrar um tempo destes por aqui surpreendeu-me. Vim a saber que há uma ONDA DE CALOR durante uma semana, e que a temperatura PODE CHEGAR A UNS ESTONTEANTES 24 CELCIUS.
Dizia-me o Ilídio (um grande amigo desde a faculdade, que mora cá perto) que quando o tempo está assim os ingleses correm para as praias e parques, com as suas toalhas e baldes de fazer castelos! Mas sem protector solar, porque bife que é bife quer-se rosadinho, certo? :-)
Depois de uma sesta prolongada, fomos até ao The Oracle. Comprámos um cartão de telemóvel da EE (recomendado tanto pelo Jimmy como pelo Hakan), e encontrámo-nos com este último – o grande responsável pela candidatura profissional que culminou com a minha vinda para cá – e família para jantar e mais uns conselhos de ordem prática – transportes, procura de casa, segurança, horários de lojas, localizações de supermercados, etc. Encontrámos também duas lojas de câmbios com taxas melhores do que do aeroporto – o que vai dar jeito para trocar euros no início.
Um dos problemas com as vindas para cá tem a ver com o trio: arranjar um NINO (nº de segurança social, necessário para trabalhar, necessária morada) – alugar um casa (para o que ajuda ter credit history bancário para não ser preciso pagar 6+ meses de renda à cabeça) – abrir conta bancária (para que é preciso morada e historial). Uma verdadeira pescadinha de rabo na boca, que se simplificou no meu caso de duas formas: primeiro, usando a morada do alojamento temporário que me forneceram, e segundo, fazendo o que fazem quase todos os estrangeiros: abrindo uma conta nas versões “International” de bancos como Lloyds, HSBC ou Natwest – tecnicamente contas offshore baseadas nas ilhas do canal como Jersey ou a ilha de Man, para que os requisitos de abertura são MUITO mais simples – e sem estar envolvida qualquer fuga aos impostos, note-se (se alguém quiser mais info sobre como isto funciona, apite).
Já jantados (italiano Strada, nada de especial, 3,5 jotas), fomos a um supermercado Sainsburys comprar um mínimo de mantimentos para amanhã. O Lamas&Joana – outros dos amigos que tenho por cá e que têm ajudado - já tinham avisado para a dificuldade inicial de encontrar as novas marcas, os produtos que vão substituir o atum bom petisco, a manteiga dos açores, o leite mimosa, os corn flakes da nacional, o café delta, a super-bock, etc. Desta vez foi tentativa e erro, claro.
Outra nota é que o pagamento é todo ele self-service: não havia uma única caixa aberta àquela hora, só mesmo a zona de self-service. Vamos passando os códigos de barras e pousando numa bandeja com balança. Nada para que seja preciso tirar um curso superior :-), mas se ficamos com algum produto na mão depois de o registar, em vez de o pousar na bandeja (por exemplo para colocar numa mochila ou saco), todo o processo pára. A little thing, perdoem-me o detalhe.
E pronto, dia terminado. De volta para casa, para desfazer finalmente as malas, tratar já de algumas coisas de trabalho (devo ir aos EUA daqui a semana e meia), responder aos amigos que foram mandando mensagens durante o dia, e escrever este primeiro post.
Custou sair de casa e ir dar uma volta de adeus, a despedida do Luís com lágrima a querer sair, toda o caminho no aeroporto até aos raios-x, mas desde aí foi mais fácil, como se fosse uma viagem de turismo. E conhecer cá gente ajuda muito, torna tudo mais simples.
Não se habituem a textos deste tamanho, que isto dá trabalho escrever!!!
(e sim, a casa tem wifi)
See you tomorrow!
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