segunda-feira, 9 de maio de 2016

The Oxford Pic-nic plus The First Day At Work

Compreendo que a multidão furiosa de leitores, que está a perder os episódios novos do Walking Dead e do Game of Thrones, esteja ansiosa por saber como foram estes últimos dois dias em brittania, mas vou ter de os fazer sofrer, tanto escrevendo muito e desnecessário texto, como colocando imagens perturbadoras que dificultem a chegada ao grand finale. Vou ainda colocar grandes descrições de objectos ou situações, meticulosamente desenhadas para causar a leitura numa diagonal quase vertical.

Isto, é claro, para o vosso prazer final. Para aumentar o sentido de suspense, e fazer o ritmo cardíaco aumentar subtil mas consistentemente, até ao suspiro final. Por isso preparem-se.

Ah, esperem, já comecei!

Oxford

Mapa Londres-Reading-OxfordPois o 5º dia, Domingo soalheiro, foi passado em Oxford, a 25 minutos de Reading de Comboio. Aqui ao lado está um mapa que também mostra Londres. De comboio demora mais ou menos metade do que de carro para fazer o percurso todo.

Ora e o que me esperava em Oxford? Ora, mais AMIZADE em formato Piquenique! A Catarina, uma moça amiga muito muito novinha que está por cá há uns 50 anos, e que fez o favor de ceder a relva de um jardim público, ao lado do qual estavam milhares de crianças silenciosamente ruidosas a aproveitar o sol numa piscina. Afinal, como quase todos fizeram questão de me alertar: “Aproveita estes dias, há alguma probabilidade de isto ser o Verão em Inglaterra.”. Juntamente com ela estava uma amiga francesa (ainda estão a contar as nacionalidades?) e juntou-se outra do Equador. Estava ainda connosco a Annie, a representante oficial da Sua Majestade - uma amiga que conheci no Mali em 2012, quando fui ao Festival au Desert em Timbuktu - e que apesar de viver aí pelo mundo, tenho tido a sorte de reencontrar várias vezes. Desta vez, calhou estar por cá esta semana a visitar a familía :-) .

Além disso (“pessoas” e “comida”), que tal Oxford? foi a minha 2ª visita, e devo avisar que não vi miudos de robe montados em vassouras com varinhas mágicas. O dia estava quente e soalheiro, e os edifícios das universidades sucediam-se uns atrás dos outros (só possíveis de visitar em tours) – e todos sabem que nestes dias não há dessas coisas sobrenaturais, suponho que por haver demasiada gente capaz de tirar fotos com telemóvel. Weird, huh?

Vou deixar aqui algumas fotos, que infelizmente não consigo legendar porque não anotei, mas provavelmente também se esqueceriam se entrasse em detalhes. A foto abaixo é das poucas que sei de que é: a cave da Blackwell, uma livraria muito conhecida em Oxford, daquelas onde apetece torrar dinheiro como se não houvesse reforma ou férias nas Maldivas:

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Estas agora ficaram giras mas não sei bem de que são, por isso ficam assim avulsas e se quiserem clicar elas expandem-se e ficam maiorzinhas.

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(gosto muito da 1ª e 3ª verticais, já agora)

Oxford é agradável e monumental, e vale bem a pena a (re)visita – mesmo apesar do mau humor da Catarina e de tanto Newton como Darwin terem estudado em Cambridge e não aqui (ouch, dizem os oxforditas na audiência). Tem um museu da história da ciência, e eventos a que certamente virei! E trago uma espingarda de pressão de ar, para o caso de me aparecer alguém armado em bruxo.

Deixo só mais uma foto, porque esta me diz mais :-) .

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Primeiro dia como blue badge

Na minha carreira profissional só tive dois empregos. O primeiro foi na Link, por 3-4 anos, o 2º foi na Create It, de que fui também sócio, por 14 anos. Do primeiro saí como Team Leader, do 2º como CTO. Na Microsoft começo como Cloud Solution Architect, numa equipa em que, com a mesma função que eu, são somos 3x o número de pessoas da Create, e vários milhares de empregados só em UK.

Microsoft UK Building 5

É estranho (deve ser sempre estranho) começar num novo emprego. Tive visita guiada ao edifício, aprovisionamento de equipamentos, acessos, recebi de rajada 5 meeting requests para reuniões - três já esta primeira semana, e já tenho uma viagem aos EUA programada para a próxima semana. Ainda não conheci os pares directos de equipa, apenas o Manager (que já conhecia de outras guerras, de quando era MVP) e alguns colegas mais conversadores, que amenizaram o desconhecimento e nos “adoptaram” para almoço e dar umas dicas. Digo “nos” porque para uma função parecida entrou um outro colega (Ali), e acabámos por fazer o setup das coisas juntos – o que ajudou, bem como alguns mails trocados com… colegas… de Portugal que me foram dando alguma ajuda.

Toda a gente me avisou que a empresa tem uma diversidade imensa de informação e recursos internos, e deu para comprovar isso logo no 1º dia. Entre links para os vários sistemas, subscrição de distribution lists, etc., deu para ocupar meia tarde. E amanhã vai ser outro tanto. Nem imagino o que vou ter na mailbox de manhã! :-)

Lá para meio da tarde já me sentia mais à vontade, já andava pelos corredores sem sentir que OH-MAS-PORQUE-ESTÃO-TODOS-A-OLHAR-PARA-MIM?. Disseram-me que havia como que três momentos, no processo de integração na empresa. Primeiro, a excitação, a pica, a energia e vontade. Segundo, perante a dimensão do que é preciso dominar e conhecer, e a percepção de que TODOS em nosso redor são inteligentes e têm a mesma paixão pela tecnologia, alguma dúvida/auto-questionar, sentir que não se consegue produzir nada. E finalmente, passadas algumas semanas, começa a superar-se este sentimento, a fazer parte da Equipa com desempenho crescente. Vou fazer por chegar a esta 3ª fase o mais rapidamente possível :-).

Venha amanhã, que hoje foi fixe!

PS: desculpem o relativo pouco detalhe sobre a empresa, mas NDAs e assim. :-)

sábado, 7 de maio de 2016

Days 3&4: Food&Friends

TL;DR

Amigos vintage ou novos, de várias nacionalidades, conversa e comida à farta. Podem saltar o resto do texto, apenas o incluo para registo histórico e para dar sono aos incautos que estejam a hesitar entre ler este post e as televendas ou eucaristia dominical na tvi.

Prato Primeiro

Reza a lenda que neste dias, depois de uma visita ao NatWest para tentar tratar da abertura de conta sem ser no offshore, me foi indicada a necessidade de uma carta do empregador com uma série de requisitos, que foi (dizem as runas) solicitada por email nesse mesmo dia.

Reza ainda a lenda que foi feito um telefonema para agendar a entrevista que permitirá obter o National Insurance Number (carinhosamente, o “NINO”), o único requisito necessário para cidadãos da EU poderem trabalhar em Inglaterra. Apesar dos muitos trabalhos necessários, e dos requisitos que incluem também uma carta do empregador, foi agendada a entrevista para próxima 3ª-feira em Slough, uma cidade entre Reading em Londres se diz ser atrozmente feia.

Contam ainda os velhotes das aldeias do norte, quando nas noites de fim de verão se encontram nas eiras para tirar as casacas ao milho, e bebem copitos de aniz sob a lua, que o fim de tarde e noite deste dia foi passado com o Ilídio e a Dorit e a criança. Ele colega de curso e amigo de faculdade, ela a esposa alemã, e ainda a filhota espevitada e conversadora. Em Newbury, a oeste de Reading, numa casinha simpática com quintal, onde terá sido confeccionado um prato muito tradicional chamado de “BBQ” (em português, chu-rras-co) – porque os ingleses abreviam tudo, e mesmo não sendo nenhum dos presentes britânico - e outros petiscos no jardim relvado atrás da casa.

jardim das traseiras (com relva por cortar!)

Dizem que ao final da noite se esteve a jogar a três ao Lego Rock Band, sendo o “It’s the final countdown” a faixa mais ouvida, entre guitarra e bateria de plástico, e que o regresso a casa terá sido feito depois de terem batido as 12 badaladas e dedilhada muita conversa.

Fiquei ainda a saber que existem em Reading duas lojas onde se podem comprar produtos portugueses, uma chamada Flavour of Portugal, e outra (brasileira) chamada Pau Brasil – onde acontecem os meetups “Let's meet and talk in Portuguese”. Estou a ficar worried comigo mesmo, não é que pareço um emigrante?!

Espera.

Uh-oh.

…!

Prato Segundo

Sem aviso nem maldade, nem previsão inesperada ou planeamento ajuizado, o primeiro prato deste sábado foi um almoço de outro prato muito tradicional britânico, designado abreviadamente de “bife” (em português, “steak”), num restaurante de carne no The Oracle. A companhia para este almoço foi o Mauro, angolano conhecido no ano passado em Torres Vedras num cliente, e que emigrou coincidentemente para Reading no final do ano passado, porque o planeta está cheio de acasos destes.
Como expatriado recente, tem frescas as experiências logísticas & demais, e muito presentes algumas dificuldades iniciais, nomeadamente na falta de companhia (a respectiva ficou nos Portugais além-mar) e uma estadia em hotel durante um mês pela dificuldade em encontrar alojamento.

Depois de almoço fomos a Wokingham, onde está a morar. É uma vila não muito longe de Reading no sentido de Londres, muito muito simpática (casinhas bonitas, muito verde, espaço), e onde claramente gostaria de ter companhia. Mas a mim faz-me impressão pensar que passaria a ter distante de mim grande parte do que hoje faz parte da minha vida e que mais me estimula e faz o cérebro rodar dervishemente: a cultura e a ciência.

Informação importante, a localização de uma loja de vinhos em Reading chamada Majestic Wine Reading, onde há vinhos portugueses e o empregado é, porque não podia deixar de ser assim, um tuga chamado “António”.

Prato Terceiro

E de regresso a Reading depois do passeio, apanhar um Reading Bus (o Lime 2a) para Burghfield Common, a sudoeste de Reading, para ir ter à tarde com o Hakan, um amigo turco de há alguns anos a quem devo estar cá, e a Gokcen sua companheira e mais a filhota, a que se juntou um casal em que ele é escocês-paquistanês e ela eslovaca, e mais a outra respectiva filhota. O prato mais uma vez o famoso “BBQ” (em português: carne na brasa, mas sem porco dadas as religiões em causa), mas desta vez com pormenores turcos e queijo do chipre que já tinha comido em Lisboa mas que agora descobri ser suposto comer grelhado (pois, eu bem que estranhei). Delícia!

A receita é turca mas não sei o nome raios

Falámos sobre como comprar carros baratos em leilões, sobre a situação escocesa – nomeadamente o facto de o país ser pro-EU e ser certo outro referendo para saída de UK em caso de a union jack vir a sair da EU –, sobre o novo mayor de Londres ser muçulmano e de origens humildes, sobre férias no oriente, sobre o festival de música de Reading “o maior da Europa” (estou a ver que não são só os tugas com estes qualificativos…), sobre a vaga de emigração enorme dos países do bloco de leste (2M de pessoas!!), sobre como tínhamos ido ali parar e o que fazíamos e para onde queríamos ir e sobre os ingleses - e afinal, os únicos representantes nativos eram as crianças de ambos os casais. E a fechar um café turco, como não podia deixar de ser: hiper-doce e com imensa borra no fundo!

Descobri ainda que já estive na terra nativa do casal turco (e eles deviam estar lá na altura), uma cidade chamada Konya, que me recordo terem dito ser “muito tradicional islâmica” (recordo as mulheres de burka), o que me confirmaram.

Sobremesa e demais totais

Dois tugas (um do Porto, o que faz toda a diferença), uma tuga/moçambicana, uma alemã, uma criança inglesa/alemã, um tuga/angolano, dois turcos, um escocês-paquistanês, uma eslovaca e duas crianças inglesas/qualquer coisa.

Diziam-me no whatsapp: “Epa, é isso que eu adoro aí” e percebo porquê. Esta variedade de vidas e experiências não se encontra em todo o lado.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Your friendly consumer advocate (day 2)

Como nos namoros ou quando nascem crianças, ainda estou na fase de contar os dias. Ora bem… estou por cá há dois dias, aproximadamente 35 horas, e tenho de fazer um esforço enorme para não escrever ‘por terras de sua majestade’ cada vez que me refiro ao país.

A foto abaixo é da casita onde estou. A minha janela da sala é a que está com cortinados descidos, no andar de baixo. Esta arquitectura cor de tijolo é pesada na vista, mas tem alguma beleza. E como o tempo soalheiro continua, está-se bem.

a nossa casa temporária

Hoje tive de ir ao escritório mostrar o passaporte, para verificarem que posso trabalhar em terras de sua majestade (e vai um) sem precisar de visto. Logo depois de isso ter ficado tratado, ligaram-me do banco, para falar sobre a abertura de conta. Lá falámos das coisas e dos pormenores e dados necessários, e reparei que a pessoa do outro lado parecia conseguir pronunciar bem o meu nome, apesar de com um sotaque estranho. Passados 15 minutos de conversa, solta uma exclamação e diz “Eh pah finalmente, acabou o tempo da gravação, posso falar em português! Olá João!”. Isto já não me devia surpreender… Estava afinal a falar com o Rui a trabalhar para o NatWest International, madeirense com sotaque bem vincado – e eu a soletrar-lhe o meu nome minutos antes… p e d r o “pêdrô”… ai. A partir daí foi “tu cá, tu lá”, nada de formalidades para inglês ouvir :).

Em Londres ouve-se falar muito português, mas no regresso ao centro de Reading ouvi falar português 3 vezes, em pessoas com quem me cruzei. E ao comprar comida no food court do Marks&Spencer, um casal novo também não escondia a nacionalidade. Estive para meter conversa, mas estavam a discutir, e quando ela diz que ele «é sempre a mesma coisa e que estava a falar com ela com tom de voz irritado», pareceu-me que era melhor deixar para depois. Ele teria agradecido, no entanto, estava a levar na cabeça.

Estação de comboio

Aproveitámos a tarde para fazer algum reconhecimento. Encontrámos um mercadinho de rua (fracote), fomos experimentar o food court do Marks&Spencer (arrumadinho, pareceu ser mais caro mas talvez mais selecto que o Sainsburys), achámos um talho (… do Kenya) e uma peixaria (o homem parecia mesmo português), uma loja de produtos orientais (onde comprámos uns noodles e uns chocolates de macha!) e outra de produtos polacos (que nem etiquetas em inglês têm). Tudo marcadinho no GPS!
E constatei ainda o hábito britânico de fins de tarde em pubs ou wine bars: tudo cheio, e das (poucas) esplanadas nem se fala.

Interlúdo de ajuda ao consumidor expatriado

No sentido de ajudar eventuais futuros emigrantes, aqui fica a rúbrica semanal “COMIDA DE CÁ”, em que uma equipa de cozinheiros, epicuristas, hedonistas e paladaristas com a melhor escola da comida nacional (bitoques, bacalhau cozido com grão, tremoços e sardinhas) identificam produtos locais de gosto equivalente.

Leite
Leite magro. Sabe bem, quase igual ao nacional. Quantidade 4 pints (2.272 litros, como diz no rótulo, sendo de salientar os 3 dígitos da conversão de unidades…).
NOTA CONSUMIDOR: 5 jotas.

Manteiga
Manteiga irlandesa. Comprei fazendo uma analogia mental com a qualidade da dos Açores, mas é convencional e com pouco sal.
NOTA CONSUMIDOR: 2 jotas.

Macha
Esta é de inspiração da viagem ao Japão. Palitos de chocolate de Macha, o chá verde que por lá se bebe!
NOTA CONSUMIDOR: 5 jotas (já acabaram?)

Queijo picante!
Queijo cheddar com “diablo chilli”? qualquer coisa que tenha “diablo chilli” promete ser interessante, a menos que seja framboesa de abacate com beterraba e diablo chilli, claro.
NOTA CONSUMIDOR: 4 jotas.

 

Interlúdio não turístico

Caminhar pelas ruas aqui é muito parecido com fazê-lo em Londres, mas a uma escala menor. Muitas línguas diferentes, pessoas de diferentes origens – obviamente muita gente da Índia –, e uma multiculturidade que me impressionou desde as primeiras visitas. A quantidade de amigos e conhecidos que por aqui tenho e continuo a descobrir quase a cada dia torna muito claro que a minha mudança é apenas mais uma da de muitos muitos milhares, mas atenua também o sentimento de distância. Londres não é Singapura.

Emocionalmente, sinto-me como que em férias. Começo a trabalhar na 2ªf, a fazer algo que nunca fiz antes, mas com confiança de que vai correr bem. E mesmo que não corra, de aprender ninguém me safa.

Nunca me considerei um “patriota”, mas a verdade é que o país onde nasci me fez, e que está cheio de coisas que pessoas e experiências (e memórias) que são indissociáveis de quem sou. Se fossemos eternos seria diferente, mas não somos, e uma saída como esta não deixa de significar um adeus, mesmo que na realidade seja um até breve. O meu caminho daqui para a frente, nos próximos anos, é diferente. Não ajuda nada ficar a olhar pelo retrovisor, se o que me pode enriquecer mais está para a frente.


Recentemente lembrei-me de uma entrevista que ouvi há uns 6 anos na TSF, a um fotógrafo português a viver nos Estados Unidos. Após algumas perguntas, o jornalista pergunta-lhe se não tencionava voltar a Portugal, tendo a resposta sido negativa. Depois de mais perguntas, a pergunta é repetida, e dessa vez o fotógrafo responde mais assertivamente e com uma tom de irritação na voz: “oiça, porque quereria voltar a um sítio que já conheço?”. Este parece-me o melhor motivo para sair.

Há dias entrei no elevador, no meu prédio, ao mesmo tempo que o casal vizinho da porta ao lado. Comecei a contar-lhes que me ia embora na 4ªf, e ele não me deixou concluir: «olha, nem vale a pena continuares, nós vamo-nos embora na 2ªf, para Amsterdão. Já estive um ano em Gibraltar, agora vamos definitivamente embora deste país “#%&”#$». E na segunda-feira, uma empresa de mudanças embalava todo o recheio e mobiliário da casa.

O que raios está a acontecer? A explicação para isto deve estar aqui. É que não é só a malta mais nova, sequer! Se for pelo mesmo motivo do fotógrafo, no entanto, isso já me deixa feliz.

E dizia eu que não sou patriota - e não só isso, detesto a palavra, e a noção de fronteiras. Qual é a palavra certa?

Acabo esta posta com duas faixas, por curiosidade ambas dos Oquestrada, mas ambas me vieram à mente ao escrever isto. A primeira dá-me uma certa nostalgia de falta de rumo, a segunda parece-me alusiva a quem fica no país – como os meus pais fizeram, mesmo no Portugal pré 25 de Abril.

 

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Welcome ABROAD!

 

Depois de uma noitada a acabar de arrumar tralha numa pilha que será transportada para UK mais tarde, a última coisa a ficar pronta foram os mp3 de cerca de 200 CDs que tenho vindo a ripar nas últimas 3 semanas. A música quer-se connosco, não a acumular pó no vinil!

Fomos levados ao aeroporto pelo Luís, ainda não tinha o sol nascido. Um grande amigo de muitos anos que se foi também despedir com um abraço mutuamente emotivo…

Ali em baixo diz Heathrow 07:25...

… e isto das despedidas é do que custa mais. Não sei se custa a todos, mas a mim sim. Por muita confiança e pica que se tenha, despedir especialmente daqueles poucos amig@s especiais custou muito. Dizia-me o Hakan, parcialmente responsável por agora me encontrar aqui, para aproveitar os últimos dias para estar com as pessoas que gosto, porque é do que se sente mais a falta. E os encontros e pequenos-almoços e lanches e almoços e jantares foram-se sucedendo nos últimos dias, tal como profetizado.

Não podia faltar uma foto do avião, certo?

Numa destas despedidas, um amigo contava que tinha ido a uma entrevista em Paris, e que com a mesma a avançar e a correr bem, começou a sentir a preocupação da possibilidade de ser seleccionado, a preocupação com o afinal poder ter mesmo de abraçar o tal desafio que procurava, e de deixar a história da vida de volta em Lisboa. Empatizei imediatamente com o que contou.

Este senhor também tem saudade...Comecei a enviar CVs para fora do país em Janeiro deste ano. Quando me perguntaram porque o estava a fazer, a resposta saiu-me de dentro: Sinto-me a ser empurrado à frente de uma multidão, mas quando olho para trás não está lá ninguém. Os motivos são muitos e complexos de perceber. Simplesmente… tinha de ser.

Uma vez que estou a começar o blog e ainda não sei bem “com que voz” escrever, vou andando e logo se vê. Não me levem a mal, mas ainda estou à descoberta e podem verter coisas mais pessoais!

Aterrámos em Heathrow, pela primeira vez sem bilhete de regresso (sim, sim, estas coisas passam-me pela cabeça!), e ao entrar na fila dos passaportes havia um grupo de miúdos israelitas, vestidos com vestes pretas, e com chapeuzinhos na cabeça, vários deles com trancinhas a reforçar a origem e a religião. O papa católico também tem um chapeuzinho ‘tapa careca’ daqueles, mas em branco e muito mais chato de lavar. Mas a sério, trancinhas?

Passámos pela segurança e demais procedimentos aeroporticos sem problemas. No controlo de passaportes o inglês do outro lado cumprimentou com um “bom dia” e fechou com um “obrigado” de quem já passou férias no Algarve. Logo a seguir ao controlo, uma senhora de impresso em punho pediu-nos para preencher um inquérito muito rápido. Duas ou três perguntas depois perguntou o motivo da viagem. “We’re actually coming to live here”. E sem um piscar de olhos, tirou da pasta um segundo impresso, azul claro, de onde começou a debitar outras perguntas. Quando terminou, desejou-boa sorte com um sorriso simpático.

Tínhamos um taxi motorista à nossa espera, o Jimmy, que seguimos até ao estacionamento. O carro parado ao lado do dele fez-me sorrir de reconhecimento! Olhem só:

olha quem ele é!

… quase pensei estar na minha própria garagem! :-)

Do aeroporto a Reading pela M4 – tenho de começar a decorar estas coisas - foram 35 minutos sem trânsito, passando por Windsor e pelo seu castelo dos filmes (“if the flag is up, the queen is there” – and it was). O Jimmy passou umas férias no Algarve quando era novo - algo me fez imaginar aquelas viagens de grupos de ingleses a bu’er jolas nas esplanadas - “but now I prefer the Canary Islands”. Estive quase a mandá-lo parar o carro e sair!!! A dizer mal do nosso Algarvinho?! Porrada já! (isto deve ser um síndrome de expatriado, agora que penso nisso – “defender o que é nosso”). Ou então agora vai com a mulher e tem medo de ainda ser reconhecido! :-)

Reading city center

Se tivesse de fazer um “sumário executivo” de Reading, dizia assim: uma cidade de média dimensão, 30 minutos a oeste de Londres de comboio, com duas Universidades, um shopping center chamado The Oracle, e muitas empresas e multinacionais especialmente mas não só da área de tecnologia. Podia também referir o Festival da Cerveja e a possibilidade de conhecer Jesus em pessoa, para dar uma cor local, mas estou de bom humor :-).

Meet jesus!

Não demorou até chegar ao destino, em Castle Crescent perto do centro da cidade, uma casa de dois andares numa rua de trás onde vamos ocupar - durante até 2 meses - um R/C simpático. Aquilo que se nota logo é que é um sítio muito, MUITO calmo: não se ouvem carros passar, nas traseiras há um pequeno relvado, e parece que estou no campo! (NOTA POSTERIOR: os pássaros começaram a cantolar pelas 0430 da madrugada, e fez-se luz seriam umas 05:00).

SACO apartments, acredite-se ou não!

A casa está mobilada e pronta a habitar, e devo admitir que a primeira coisa a tirar das malas foi a PS4 (apenas para ver se funcionava, claro!). De resto, já não estava habituado a chão com alcatifa, mas fora isso, é um sítio mais acolhedor do que esperava, e a mesa à frente da janela por onde entra o sol é um destaque.

Uma das coisas que tenho de referir é que, ao contrário das 4 vezes que estive em Reading antes, desta vez o tempo estava muito agradável, e o dia soalheiro! Sim, sim, eu sei, também fiquei estupefacto! Ainda ontem, em Lisboa, a temperatura chegou aos 29 C e estive de t-shirt a jantar numa esplanada até quase à meia-noite, mas ainda assim encontrar um tempo destes por aqui surpreendeu-me. Vim a saber que há uma ONDA DE CALOR durante uma semana, e que a temperatura PODE CHEGAR A UNS ESTONTEANTES 24 CELCIUS.
Dizia-me o Ilídio (um grande amigo desde a faculdade, que mora cá perto) que quando o tempo está assim os ingleses correm para as praias e parques, com as suas toalhas e baldes de fazer castelos! Mas sem protector solar, porque bife que é bife quer-se rosadinho, certo? :-)

O Tamisa ao centro, o Oracle nos lados

rua pedestre atrás do Oracle

Depois de uma sesta prolongada, fomos até ao The Oracle. Comprámos um cartão de telemóvel da EE (recomendado tanto pelo Jimmy como pelo Hakan), e encontrámo-nos com este último – o grande responsável pela candidatura profissional que culminou com a minha vinda para cá – e família para jantar e mais uns conselhos de ordem prática – transportes, procura de casa, segurança, horários de lojas, localizações de supermercados, etc. Encontrámos também duas lojas de câmbios com taxas melhores do que do aeroporto – o que vai dar jeito para trocar euros no início.

Um dos problemas com as vindas para cá tem a ver com o trio: arranjar um NINO (nº de segurança social, necessário para trabalhar, necessária morada) – alugar um casa (para o que ajuda ter credit history bancário para não ser preciso pagar 6+ meses de renda à cabeça) – abrir conta bancária (para que é preciso morada e historial). Uma verdadeira pescadinha de rabo na boca, que se simplificou no meu caso de duas formas: primeiro, usando a morada do alojamento temporário que me forneceram, e segundo, fazendo o que fazem quase todos os estrangeiros: abrindo uma conta nas versões “International” de bancos como Lloyds, HSBC ou Natwest – tecnicamente contas offshore baseadas nas ilhas do canal como Jersey ou a ilha de Man, para que os requisitos de abertura são MUITO mais simples – e sem estar envolvida qualquer fuga aos impostos, note-se (se alguém quiser mais info sobre como isto funciona, apite).

anida o rio ali no Oracle

Já jantados (italiano Strada, nada de especial, 3,5 jotas), fomos a um supermercado Sainsburys comprar um mínimo de mantimentos para amanhã. O Lamas&Joana – outros dos amigos que tenho por cá e que têm ajudado - já tinham avisado para a dificuldade inicial de encontrar as novas marcas, os produtos que vão substituir o atum bom petisco, a manteiga dos açores, o leite mimosa, os corn flakes da nacional, o café delta, a super-bock, etc. Desta vez foi tentativa e erro, claro.
Outra nota é que o pagamento é todo ele self-service: não havia uma única caixa aberta àquela hora, só mesmo a zona de self-service. Vamos passando os códigos de barras e pousando numa bandeja com balança. Nada para que seja preciso tirar um curso superior :-), mas se ficamos com algum produto na mão depois de o registar, em vez de o pousar na bandeja (por exemplo para colocar numa mochila ou saco), todo o processo pára. A little thing, perdoem-me o detalhe.

à saída das compras, a caminho de casa

E pronto, dia terminado. De volta para casa, para desfazer finalmente as malas, tratar já de algumas coisas de trabalho (devo ir aos EUA daqui a semana e meia), responder aos amigos que foram mandando mensagens durante o dia, e escrever este primeiro post.
Custou sair de casa e ir dar uma volta de adeus, a despedida do Luís com lágrima a querer sair, toda o caminho no aeroporto até aos raios-x, mas desde aí foi mais fácil, como se fosse uma viagem de turismo. E conhecer cá gente ajuda muito, torna tudo mais simples.

Não se habituem a textos deste tamanho, que isto dá trabalho escrever!!!

(e sim, a casa tem wifi)

See you tomorrow!